Por Leandro Bovo da Radar Investimentos

O momento que estamos vivendo, com a pandemia do coronavírus é, sem dúvida, a maior crise econômica global desde a segunda guerra mundial, maior até mesmo do que a crise de 2008. Diferentemente de 2008, que começou nos mercados financeiros e se dissipou para a economia real, hoje é uma crise da economia real que contaminou os mercados financeiros.

As consequências dessa catástrofe ainda não podem ser totalmente estimadas, já que o efeito de uma paralisação total das atividades por períodos prolongados é potencialmente devastador para todos os setores da economia. Micro, pequenos e médios empresários se veem na situação de terem que suportar os custos fixos do negócio sem nenhuma receita e caso a solução para essa situação seja fechar de vez as portas, as consequências econômicas do desemprego generalizado podem ser devastadoras.

Sem saber qual ação concreta poderá ser tomada pelo governo para evitar esse desfecho, os mercados permanecem numa movimentação caótica, com quedas gigantes nas ações de todos os setores, independente de fundamentos ou de qualquer outro fator minimamente racional.

Nesse cenário incerto, todas as commodities agrícolas sofreram fortes vendas e o mercado futuro de boi gordo foi um dos que mais sofreu, chegando a cair impressionantes R$45,00/@ em pouco mais de uma semana. A violência do movimento foi tão grande que desencadeou limite de baixa durante cinco dias na B3, um movimento que não aconteceu em nenhum outro momento na história recente do mercado, trazendo o contrato de out/20 dos R$215,00/@ para a mínima de R$171,00/@. O contrato de maio caiu de R$205,00/@ para R$161,00/@.

Diante do caos na economia real e no mercado financeiro a postura das indústrias foi derrubar os preços de balcão que saíram de ao redor de R$200,00/@ para R$180,00/@, porém, com praticamente nenhum negócio realizado nesse preço. É até compreensivo a indústria tentar recuar o preço de sua matéria-prima diante de um cenário tão incerto dessa forma, porém, em tempos de crise o boi gordo é um ativo de muito valor e com as pastagens em boas condições e a reposição em patamares recordes, a tendência natural do pecuarista é segurar sua mercadoria e não tomar a decisão de venda em momento de pânico.

Por mais que a destruição de demanda seja real nos setores de food service e restaurantes industriais, a alimentação em casa tende a aumentar e, com ou sem quarentena, a população seguirá se alimentando e mantendo um certo nível de consumo de proteínas, aliás, no primeiro momento a reação da população foi exatamente a de “limpar” as prateleiras dos supermercados, comprando e estocando alimentos, incluindo aí carne bovina, que terá que ser reposta nos próximos dias.

 A queda do mercado futuro, principalmente dos vencimentos da entressafra, é um enorme desestímulo ao confinamento, já que o preço do boi magro e da alimentação não caíram nem perto do que caíram os preços do boi gordo na bolsa. No patamar atual do mercado futuro de boi gordo e dólar nossa carne está cotada ao redor de US$35,00/@. No auge das compras dos chineses em novembro do ano passado estávamos em US$55,00/@. Os chineses, que estão começando a retomar as atividades normais após o surto de coronavírus, não costumam perder esse tipo de promoção. A conferir.

***Texto originalmente publicado no informativo pecuário semanal “Boi & Companhia” nesta última quinta-feira (20/mar) da Scot Consultoria***