Por Leandro Bovo da Radar Investimentos
Todos os envolvidos na atividade de engorda intensiva de bovinos em confinamento sabem das dificuldades inerentes à ela: margens apertadas, necessidade gigantesca de capital e exposição massiva às flutuações de preços do boi magro, boi gordo, milho e soja. Ou seja, confinamento não é pecuária, é uma indústria e demanda uma capacidade gerencial enorme de quem se dispõe a tentar desenvolvê-la.
Tendo isso em mente, não é novidade que são raros os momentos onde ocorre uma conjunção de fatores muito favorável à atividade. Sempre vai haver um ou outro item prejudicando a equação, porém também são raros os momentos em que todos os itens jogam contra. E essa parece ser exatamente a situação enfrentada pelos confinadores agora, com o custo do boi magro, alimentação e o preço de venda dado pelo mercado futuro convergindo para desincentivar a atividade.
Uma das últimas esperanças dos confinadores era justamente o preço do milho, cujo início da colheita da safrinha alimentava a expectativa de algum alívio pela maior disponibilidade do cereal. Essa esperança, no entanto, vai caindo por terra á medida que a colheita da safrinha avança, mas os preços do milho não caem. Na verdade, o que está acontecendo é o extremo oposto, os preços do milho têm subido em plena colheita. Acompanhe no gráfico abaixo:
Tem chamado muito a atenção o fato de o comportamento dos preços do milho em 2020 estar muito parecido com os de 2019, porém num patamar de R$ 10 acima, como pode ser observado no gráfico abaixo:
A razão para esse comportamento parecido é que a conjuntura de oferta x demanda dos dois anos também foi similar, com grande produção, só que prontamente absorvida pela exportação, deixando os estoques de passagem muito ajustados. Essa situação deixa os compradores sem muita margem de manobra, já que na expectativa da queda de preços ninguém quis alongar muito o seu horizonte de compras esperando o inicio da colheita. O problema foi que a colheita começou e a oportunidade de compra ainda não apareceu, causando um desconforto generalizado nos usuários do milho. Se a correlação entre 2019 e 2020 que existiu até agora se mantiver no segundo semestre, o confinador não terá o alívio tão esperado nesse importante insumo de sua produção.
***Texto originalmente publicado no informativo pecuário semanal “Boi & Companhia” nesta última quinta-feira (9/jul) da Scot Consultoria***