Por Leandro Bovo da Radar Investimentos

Com as exportações do mês de julho muito bem posicionadas para quebrar o recorde de maior volume embarcado em um mês na história da pecuária, e com o mercado interno combalido pelos efeitos da crise do coronavírus, o impacto das exportações na precificação do boi gordo tem aumentado significativamente.

No artigo da semana passada, mostramos os dados da sazonalidade das exportações que na média dos últimos 10 anos foram 17% maiores no segundo semestre do que no primeiro. Tendo esse histórico como referência e com base no volume exportado no primeiro semestre de 2020, a expectativa de volume embarcado no segundo semestre desse ano fica ao redor de 900 mil toneladas eq. Carc. considerando apenas a carne in natura. Para tentar estimar o número de animais demandados por essa exportação potencial, usamos como referência o peso médio das carcaças produzidas no 2º semestre de 2019 que foi de 250 kg por animal, incluídos aí machos e fêmeas. Dividindo um número pelo outro, chegamos a uma estimativa de que somente a exportação do segundo semestre demandará potencialmente 3,6 milhões de animais!

É muito difícil estimar com a mínima precisão o volume de animais engordados em confinamento no Brasil, mas um número que é próximo do consenso entre os levantamentos feitos até agora é algo próximo a 5 milhões de animais ao ano. Se a divisão desse número entre primeiro e segundo semestre for de 30%/70%, esse exercício hipotético nos aponta que as exportações poderiam absorver todo o volume confinado no segundo semestre desse ano, sobrando apenas animais a pasto e semi-confinados para abastecer o mercado interno.

É óbvio que todas essas estimativas podem conter erros e não serem a representação exata do que vai acontecer no restante do ano, porém eles nos dão uma boa noção do impacto das exportações (e da China) nos preços do boi gordo. Com isso em mente, o dólar acaba sendo uma variável importantíssima para que possamos manter, ou quem sabe superar o nível atual de preços, já que a alta do dólar foi a responsável por baratear nossa @ no exterior mesmo com a @ em reais tendo subido de preço. Acompanhe no gráfico abaixo a evolução da @ do Brasil em dólares nos últimos 10 anos.


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Como fica evidente no gráfico, ainda estamos em patamares bastante abaixo do que se praticou nos últimos anos e abaixo inclusive da média histórica do período que foi de U$ 47/@. O boi gordo em dólares tem subido nos últimos meses e está hoje ao redor de US$ 43,5/@, portanto tendo essa média como referência, ainda teríamos espaço para maiores valorizações da @ em Reais. Resta saber se o mercado interno permitirá isso…

***Texto originalmente publicado no informativo pecuário semanal “Boi & Companhia” nesta última quinta-feira (30/jul) da Scot Consultoria***