Por Leandro Bovo da Radar Investimentos
O mercado de boi gordo segue sua trajetória de alta iniciada em junho e sem ter nenhuma parada técnica até o momento. A conjuntura de alta é tão robusta que até o momento nenhuma das diversas tentativas da indústria em reverter esse processo teve um mínimo sucesso. Escorado na alta do dólar, nas exportações em níveis recordes, custos de alimentação no confinamento em níveis proibitivos , boi magro em preços inviáveis e diferenciais de base zerados, o mercado segue subindo num movimento lento, mas consistente que trouxe os preços dos R$ 200/@ de maio até as máximas de R$ 240/@ de atualmente.
A curva de preços futuros vinha refletindo um cenário bem pessimista desde a eclosão do coronavírus em março, quando os preços despencaram e desde então nunca mais apresentaram ágio frente ao mercado físico. Esse fato mudou no pregão de 21/08 quando pela primeira vez o contrato de outubro voltou a ter preços acima dos preços do boi a vista. Acompanhe no gráfico abaixo:
A curva futura empinou não apenas no outubro, mas também no novembro e no dezembro meses que já apresentam ágios mais relevantes frente aos preços atuais, indicando a preocupação do mercado com a baixa reposição do gado de primeiro giro que vem sendo abatido ao longo de agosto. Muitos confinadores estão no mercado tentando comprar boi magro para repor a saída do primeiro giro mas não estão conseguindo encontrar oferta de boi magro a preços suficientes para fechar as contas.
O mercado futuro ainda é efetivamente usado por um baixo número de produtores, porém muitos olham as suas sinalizações e tomam decisões baseados nela. A resposta do setor produtivo à inclinação da curva de preços não pode ser desprezada. Quando o diferencial de preços safra x entressafra representado pelo diferencial maio x outubro ficou negativo, e os custos não fecharam, a resposta do produtor foi não confinar e tivemos o buraco de oferta de julho / agosto.
O ágio atual ainda é tímido, mas é muito bem-vindo e dependendo do nível que venha a atingir, pode sim direcionar mais oferta para os meses onde supostamente haverá falta de oferta. Ter a visita desse componente que não aparecia há muito tempo foi uma ótima notícia para a pecuária. Resta saber se ele conseguirá remediar a situação de baixa oferta atual no seu devido tempo. A conferir.
***Texto originalmente publicado no informativo pecuário semanal “Boi & Companhia” nesta última quinta-feira (27/ago) da Scot Consultoria***