Por Leandro Bovo da Radar Investimentos
A situação atual dos preços praticados ao longo da cadeia produtiva da pecuária de corte conseguiu uma façanha poucas vezes ocorrida no mercado, que é uma estrutura de preços que desagrada a praticamente todos os seus elos (exceção feita a quem carrega estoque de gado dos anos anteriores).
O valor do boi gordo em São Paulo oscilando ao redor dos R$ 300/@, em sua máxima nominal histórica em teoria deveria ser muito remunerador para o pecuarista, porém quando colocamos esse preço em comparação com os insumos necessários para a produção de um boi gordo, vemos que a conta não é tão boa assim. A alta dos insumos da alimentação, baseados no milho e na soja, foi bem maior do que a alta da @ e se fizermos a comparação com a reposição, aí os números ficam ainda piores.
Se para o produtor a situação não está um mar de rosas, para a indústria então a situação é crítica. Quem vende apenas carne com osso no atacado, está passando por uma das piores situações dos últimos anos, como pode ser observado no gráfico abaixo que mostra a comparação do preço da carne com osso no atacado com o preço do boi gordo.
Talvez o elo mais fraco dessa cadeia seja ainda o consumidor brasileiro, que além de ter seus rendimentos achatados pela crise da panedemia, está enfrentando uma alta de custos assustadora, com a inflação anual medida pelo IGPM subindo 25% no ano. E o pior de tudo é que não há muito para onde correr, já que na alimentação a alta não se restringe à carne bovina, todas as proteínas estão subindo no mesmo ritmo na esteira da alta do dólar e do apetite da China.
Num ajuste tão tênue como esse fica muito difícil fazer qualquer previsão de qual elo cederá espaço ao outro e qual sucumbirá no meio do caminho. O único setor que está realmente “nadando de braçada” é o setor da cria, nada mais justo para quem suportou margens negativas por anos e anos a fio. E como o remédio para preços altos são os preços altos, a solução para o dilema atual começa justamente pelo incentivo a essa atividade via margens elevadas.
***Texto originalmente publicado no informativo pecuário semanal “Boi & Companhia” nesta última quinta-feira (25/fev) da Scot Consultoria**